terça-feira, 24 de novembro de 2015

Ney Matogrosso estará hoje em Pelotas no Teatro Guarany

A apresentação dos Secos & Molhados no Maracanãzinho, em 1974, serve para entender aquilo que, por muito tempo, Ney Matogrosso, com show marcado para hoje no Theatro Guarany, em Pelotas, é organizado pela Tri Produções, entendeu como dupla personalidade: é de menos de um segundo para o outro que ele deixa de estar parado para estar rebolando e é de menos de um segundo para o outro que ele parte de uma voz berrante para a serena entonação que dá ao verso “minha alma cativa” ao final de Sangue latino. 

Não há conflito, pois, entre estas duas metades de um mesmo espírito. Talvez porque ambas correm para o mesmo lado: o da liberdade. João Ricardo e Gerson Conrad já contavam com material suficiente para ser apresentado publicamente, ao que foram convidados a tocar em um espaço underground de São Paulo. 

Apesar dos pontos positivos de uma apresentação ainda amadora, sentiram a necessidade de encontrar um lead singer que abrilhantasse os anteriormente compostos vocais do grupo até então chamado Eric Expedição. 

Foi aí que Luli, cantora e compositora carioca - autora de O vira, diga-se - mencionou um ator dono de voz “belíssima e rara”. Não foram muitos os contatos necessários para que os dois soubessem estar diante do intérprete que almejavam. 

“Ele não apenas possibilitou que a harmonia entre as vozes fosse lapidada, como contribuiu também para que a performance e a presença de palco se tornassem elementos marcantes no grupo”, disse Conrad no livro Meteórico momento, biografia por ele escrita acerca de um dos grupos mais fulminantes da música brasileira. 

Foram dois discos lançados com o Secos & Molhados até que, serenamente, como na maior parte de sua vida, Ney anunciou que estava se desligando do projeto por motivos que ele explica na entrevista exclusiva que o leitor do caderno Estilo tem acesso a seguir. Bola pra frente, a vida e a arte não respeitam paradas e logo no ano seguinte, 1974, Ney lançou seu primeiro disco solo, Água do Céu - Pássaro. 

A música vinha embalada em capa de papelão cru, com o cantor pintado, vestido com pelos de macaco, chifres e pulseiras de dentes de boi. A recepção em meio à ditadura militar não foi positiva. Considerou-se o resultado, veja só, “extravagante demais”, resultando em vendagem inexpressiva. 

Não adiantou muito e parece que se mais força fosse colocada contra a paz de Ney, o cenário também não seria alterado: mais de quatro décadas se passaram e, aos 74 anos, o intérprete continua sendo pedra - e que grande pedregulho - no sapato engraxado dos caretas, grito no ouvido do conservadorismo.






* Por: Leon Sanguiné - Diário Popular

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