sexta-feira, 27 de novembro de 2015

As dificuldades encontradas por aqueles em busca da carteira de motorista

O índice de reprovação no Estado para categoria B (apenas carros) era de 61,47% há cinco anos. Hoje é 67,73%. 

Ligar o motor do carro, colocá-lo em movimento, dirigir por determinado tempo e estacionar. Uma sequência de ações banais que muita gente executa sem pensar, todos os dias. Mas há um momento na vida de qualquer motorista em que isso não é assim tão automático: a hora de realizar o exame de direção. Nervosismo e insegurança são só alguns dos fatores que pesam sobre o candidato nessa hora.  
Segundo dados do Detran-RS, os índices de reprovação nas provas práticas da Carteira Nacional de Habilitação na categoria B (apenas para carro) são de 67,73%, segundo os dados até outubro. 

Entre 2010, o índice de reprovação no Estado era de 61,47%. Levando em conta apenas a região Sul do Estado, o crescimento foi de 57,75% em 2010 para 69,5% em 2015. A taxa é tão alta, que o Detran montou uma comissão para analisar esses dados e apontar suas causas. Atualmente, o grupo trabalha na elaboração de nova metodologia de análise, que leva em conta, por exemplo, quantas vezes o candidato já fez o exame e reprovou. Até outubro, última atualização divulgada, os índices de aprovação/reprovação eram baseados apenas na quantidade de exames feitos no geral, sem discriminar candidatos. 

Outras medidas, como a impossibilidade de que o aluno considerado inapto pelo instrutor fazer a prova, por exemplo, também estariam em estudo, embora ainda não tenham sido formalizadas. A realização do exame após a vigésima aula, mesmo sem preparo suficiente, é apontada como uma das principais causas dos números negativos nos Centros de Formação de Condutores (CFCs). 

Para tentar entender o que leva a esses índices, vejam o que pensam alguns candidatos e os próprios aspirantes a uma habilitação. Mesmo que sejam apontadas muitas motivações para a não aprovação, todos parecem concordar em uma coisa: não é um processo fácil. 

*Questão vai além de aprovação/reprovação* 

De acordo com alguns Diretores de ensino dos CFCs, a questão desses índices não é simples. Há todo um processo e uma forma de encará-lo, que os números não são capazes de dar conta. Um dos principais pontos destacados é a ideia de que se está pagando para ter uma habilitação e não para passar por um processo de preparação para estar habilitado a conduzir um veículo. 

Existem muitos alunos, quando compram o pacote, que inclui as 20 aulas práticas mínimas exigidas na Legislação, imaginam que é impossível que essas aulas não sejam suficientes para aprender. É um erro. A realidade é que só uma minoria consegue estar preparado apenas com essas horas mínimas determinadas na legislação. Há casos em que, nessa etapa, os alunos ainda não tenham sequer o controle do veículo. 

Os Diretores reconhecem que a questão econômica pesa bastante para que essa ideia (de que o mínimo é suficiente) prevaleça. Já partindo de um custo alto - não sai por menos de R$ 1,2 mil -, o processo todo pode acabar saindo bem mais caro, conforme a necessidade de novas aulas ou outras provas. "Depende do que o estudante vai render ao longo do processo, alguns com mais facilidade já conseguem evoluir bem nas primeiras aulas, mas são minoria". 

*Importante não queimar etapas* 

Todos aqueles que já passaram pela experiência de aprender a dirigir conhecem a dificuldade inicial de receber uma série de informações novas e coordená-las enquanto tenta domar uma máquina com a qual não está acostumado. Segundo o diretor de ensino do CFC, é nesse momento que muitos acabam cometendo um erro que vai influenciar diretamente no desempenho nos exames práticos. Ansiosos para encararem logo as vias, muitos alunos acabam não encarando as bases iniciais com a importância que têm. 

É no estágio inicial em que o instrutor ensina a utilização dos pedais e a "sentir" o funcionamento do motor que estaria a chave para uma das competências consideradas mais importantes: dominar o veículo. "Ter total controle sobre o carro talvez seja responsável por 80% do resultado que o aluno vai ter depois", defende Costa. Ainda assim, percebe que muitos fazem comparação com conhecidos, que com algumas aulas já estavam indo para o percurso, e acaba pressionando o instrutor para irem para o trânsito. 
*Aprender para dirigir em qualquer local* 

Outro ponto destacado, é a crença, errada de que o aluno deve aprender apenas no percurso de exame. Explicam que isso sequer é possível, uma vez que o avaliador, na hora da prova, pode levar o candidato por quaisquer vias, desde que com as características estabelecidas na Legislação. "Muitos reclamam do tempo em que andam no centro da cidade, por exemplo, e chega ao final do processo com despreparo, já que qualquer situação diferente do que vivenciou vai prejudicar", argumentam. 

O local onde fazem as aulas não é preponderante para reprovação ou aprovação. A escolha do percurso da prova é feita de acordo com critérios estabelecidos pelo Detran, como via ter boa sinalização e circulação de veículos e o percurso só é, mais ou menos, estimado, porque os testes duram entre 10 e 15 minutos, mas o avaliador pode escolher diversos percursos diferentes. 

*Com a palavra, os candidatos* 

Além dos adesivos identificando os veículos de auto escolas, não é difícil reconhecer quando o motorista está em processo de habilitação. Existem locais adequados onde normalmente acontecem a maioria das aulas práticas, por todos os lados há automóveis conduzidos de forma ainda insegura, sem pressa. Nessa etapa, todos são considerados aprendizes, mas também candidatos. Em algum tempo estarão com um avaliador desconhecido sentado no banco do carona e fazendo anotações em uma planilha. 

A estudante Dafne Schwanke, 20 anos de Pelotas, ainda não passou pela prova, mas já tem certeza de que as 20 aulas mínimas não serão suficientes para a aprovação. Estava na décima quinta aula quando conversou com a reportagem e já falava em marcar mais. "Só vou pra prova quando tiver certa de que tenho condições de passar, não quero arriscar", explica. Há poucas aulas, começou a treinar baliza e acha a parte mais difícil. Pegou pouco o carro no centro também. 

Quem tem a missão de orientar Dafne no processo rumo à CNH é o instrutor Eduardo Sertorio. Ele concorda com a decisão da estudante. "A reprovação diminuiria muito se o candidato fizesse a prova só quando se sentisse seguro, pois para quem chega na autoescola sem noção alguma de direção, 20 aulas não são suficientes". Ele conta que para alguns alunos nem é preciso falar para fazer mais aulas, pois ele mesmo vê que precisa. Outros, no entanto, querem tentar a sorte, principalmente por causa do dinheiro investido. 

Para o colega de Sertorio, Everson Pereira, instrutor há nove anos, há ainda outros fatores. Hoje em dia os jovens não têm mais habilidade com as coisas manuais, reflexos de uma infância muito diferente daquela de décadas atrás. "Pode parecer uma bobagem, mas penso que aquelas brincadeiras de antigamente, com carrinhos e outras coisas, na rua, davam mais habilidades, ajudavam a ter noção de espaço". 

O também estudante Arthur Castro, 20 anos também de Pelotas, não enfrentou essa dificuldade. Passadas as aulas exigidas para marcar o exame, foi considerado apto pelo instrutor a partir para a prova. Embora dirija já com segurança e faça as manobras sem dificuldade durante as aulas, o jovem tenta pela terceira vez a aprovação. Para ele, a questão psicológica o prejudicou. "Nunca tinha tocado em um carro e aprendi tudo aqui, mas na hora da prova a coisa é diferente", confessa. Para não perder a prática adquirida, marca aulas entre as provas e procura trabalhar a questão emocional. 

Para a instrutora Cibele Oliveira, no ramo há sete anos, são muitos os fatores que influenciam na evolução do aluno na hora da prova. Idade, tranquilidade e, até mesmo, determinação. "É importante saber que aprender é uma coisa, mas que passar é outra situação, porque não adianta só saber, tem que estar tranquilo, decidido". Precisa prática, também. Cibele brinca que a maioria gosta de fazer provas, mas não marca aulas de reforço. "Tem que ver o que realmente se quer, passar na prova ou aprender a dirigir", conclui.






*Por: Vinícius Waltzer - Diário Popular

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