sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Muda o calendário de vacinação na rede pública


São seis imunizações oferecidas na rede pública que tiveram alteração ou no número de doses ou na idade das crianças para a aplicação. 

O choro de Laura, de apenas três meses, provoca nos pais Vinícius Dutra e Taíne Camargo, 30 e 31 anos, um misto de preocupação e tranquilidade. Se por um lado há o instinto de querer sempre evitar as lágrimas dos filhos, por outro há o entendimento de que essas são para o bem da criança. Laura recebeu na quinta-feira (14), no Centro de Especialidades, a primeira dose da vacina contra a meningite, uma das seis imunizações que tiveram alterações no esquema público, seguindo orientações do Ministério da Saúde. As mudanças já estão valendo desde o primeiro dia útil deste ano. Quem já havia iniciado algum esquema vacinal pelo modelo antigo deve continuar a imunização conforme a nova orientação. 

A gerente da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde (SMS), Maria Regina Reis Gomes, explica que as mudanças já haviam sido apresentadas aos serviços de saúde no final do ano passado, e que foram oficializadas no início de 2016. Ela destaca que não houve nenhuma exclusão ou adição de vacinas, apenas alteração nas doses a serem aplicadas ou nas idades. As alterações são vistas como rotineiras, embora não seja comum que tantas ocorram ao mesmo tempo. “Mas também nunca tivemos tantas vacinas no calendário, como agora”, pondera a gestora. 

As mudanças, ela explica, têm justificativas diferentes, dadas pelo Ministério da Saúde aos órgãos responsáveis em todo o Brasil. Enquanto algumas tiveram alterações apenas na idade em que são aplicados os reforços, por uma questão de unificação ou de separação em relação a outras imunizações, a vacina contra o HPV deixa de ter uma terceira dose. De acordo com o governo, estudos comprovam que a imunização com duas ou três doses é similar e, portanto, a última poderia sair do calendário. 

Segundo o Ministério, atualmente o Programa Nacional de Imunizações (PNI) distribui cerca de 300 milhões de imunobiológicos (vacinas e soros) ao longo do ano, além de oferecer à população todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no Calendário Nacional de Vacinação. Além disso, nos últimos cinco anos o orçamento do PNI teria crescido mais de 140%, passando de R$ 1,2 bilhão, em 2010, para R$ 2,9 bilhões, no ano passado. 

A importância de buscar a proteção 

O advogado Vinícius Dutra e a esposa, mencionados no início da reportagem, vivem a experiência da responsabilidade por uma nova vida em formação pela primeira vez. A pequena Laura já recebe as vacinas de que precisa para crescer protegida de uma série de doenças. Até agora, contam que têm conseguido seguir o calendário vacinal.

Preocupado com prevenção, mas também em diminuir ao máximo o sofrimento da filha, Dutra lembra que buscou na rede privada uma dose da hexavalente acelular, opção de muitos pais por provocar menos reação nos bebês. Devido a uma escassez mundial, o produto não foi encontrado e o jeito foi recorrer à rede pública e aplicar a pentavalente de célula inteira, que oferece a mesma proteção. “Achamos que valeria a pena pagar e evitar reação, mas não tivemos escolha. Ela passou dois dias com febre depois da vacina”, explica. Já a imunização contra a meningite, aplicada em Laura na tarde de quinta-feira, não deve trazer reações, apenas o choro no momento da injeção. 

A gerente da Vigilância Epidemiológica destaca a importância de a população buscar as vacinas junto aos serviços de saúde, já que elas são fundamentais para proteger crianças e adultos de doenças graves. Ela considera necessário que todos tenham consciência da relação entre não tomar a vacina e o risco de ficar doentes. 

Maria Regina destaca o exemplo do Papiloma Vírus Humano (HPV), com proteção indicada a meninas entre nove e 13 anos que teve mudanças na orientação do Ministério. Segundo ela, muitas pessoas minimizam a importância da vacina, por acharem que a idade é baixa para uma doença sexualmente transmissível. “O início da vida sexual é cada vez mais cedo e a doença é grave”, destaca. O HPV pode ser controlado, mas ainda não tem cura. Quando não tratado, torna-se a principal causa do câncer de colo do útero. “Estudos mostram que a vacina contra o HPV é muito eficiente. Ela protege contra quatro tipos de HPVs, justamente os que são mais cancerígenos”, enfatiza a gerente. 

Esse e outros imunobiológicos são disponibilizados em toda a rede básica de saúde, gratuitamente. Nas Unidades Básicas é possível também encontrar informações sobre as mudanças feitas no calendário e sobre as campanhas de vacinação previstas ao longo do ano. 

Sem oferta 

Embora o Ministério tenha anunciado a ampliação da oferta da vacina para a Hepatite B, ela está entre as doses que, frequentemente, não têm sido repassadas aos serviços de saúde. Em Pelotas, desde o ano passado há dificuldade de manter o estoque dos imunobiológicos contra essa doença e outras duas, a raiva e o tétano. De acordo com Maria Regina, a Secretaria de Saúde têm solicitado os repasses, mas acaba recebendo um número muito reduzido de vacinas. 

O problema já havia sido denunciado pelo Diário Popular no final do ano passado, quando um jovem foi mordido por um cachorro de rua e não encontrou a vacina antirrábica na rede pública. Para dezembro e janeiro, por exemplo, conta ter recebido apenas 50 doses de antitetânica. “Isso fica muito aquém da nossa necessidade, nos obrigando a ser extremamente cuidadosos quanto à real necessidade e urgência de cada caso”. 

As doses do produto são centralizadas no Centro de Especialidades, sem distribuição às unidades básicas. O mesmo procedimento de análise individual dos acidentes é usado em relação à antirrábica. O rigor de observar o comportamento dos animais antes de aplicar a vacina é a forma encontrada para não acabar enfrentando problemas mais graves. Acidentes envolvendo mordidas de mamíferos que possam transmitir a raiva exigem ainda o uso do soro antirrábico, que já vem com anticorpo pronto e é o primeiro elemento imunizante a ser empregado. 

Este, no entanto, também falta no Pronto-Socorro. Já para a proteção contra a Hepatite B não houve nenhum repasse desde o mês passado. O estoque existente teria sido repassado às maternidades, uma vez que a imunização é feita em recém-nascidos. Em casos mais graves, a Coordenadoria de Saúde é acionada e, depois, a Secretaria Estadual de Saúde. Municípios que não tenham utilizado todo o estoque acabam repassando algumas doses para os que não têm nenhuma e, assim, tenta-se contornar o déficit. 

Por enquanto, segundo a gerente, não teria havido problemas mais graves, mas não há uma previsão de que o repasse seja normalizado, uma vez que a origem do problema seria a produção dessas vacinas. “A informação que temos é de que uma reforma no Instituto Butantan teria parado os laboratórios, mas não sabemos quanto tempo é necessário para atender toda a demanda”, comenta, lembrando que o Brasil tem o maior calendário público de vacinas do mundo. A informação repassada aos órgãos municipais, no entanto, não é confirmada pelo Butantan. 

Segundo o Instituto, “no que se refere à produção da vacina de raiva inativa (Vero), todos os lotes solicitados foram entregues ao Ministério da Saúde e estão disponíveis. 

Quanto à vacina Hepatite B, o Instituto Butantan fará duas entregas ao Ministério da Saúde, 7 milhões de doses em fevereiro e 8 milhões em junho, conforme acordo recém-firmado com o governo federal. Sobre a vacina DT (difteria e tétano), o Butantan informa que não foi contratado para entregar essas vacinas ao Ministério. 

Em relação à produção de soros, em 2015, durante reforma da planta para processamento de soros do Instituto Butantan, ela foi feita de forma compartilhada por vários outros laboratórios, conforme acordo com o governo federal. O quantitativo de soros demandado pelo Ministério está disponível, aguardando formalização do contrato”.


*DP

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